Ir Viver para o Campo - Teresinha



CRESCER: AS DÚVIDAS E AS CONFIRMAÇÕES

Chegámos á quinta há seis meses!

Cada mês que passou foi uma aventura, cada mês que passou foi um desafio. Seis meses é tão pouco mas o suficiente para tantas transformações. Não é sempre fácil. Muitas vezes pergunto-me se não devia estar atrás da secretária, com uma missão específica, regular e séria, no sentido a que todos estamos habituados, e a trazer dinheiro para casa. Muitas vezes fico ansiosa porque se calhar devia ter continuado a “carreira”. As dúvidas assim como vêm, vão. Não sei como será a minha vida daqui a uns anos (nunca fui boa a planear longos períodos de tempo) mas o meu coração diz-me que a minha decisão é a correcta. Dá mais trabalho começar do zero mas frutos saborosos serão colhidos.

Entretanto cresci como mãe, dei mimo a uma casa e terra que estavam tristes, plantei flores, já choveu e o sol agora brilha. Acho que agora sou uma verdadeira mãe-galinha do campo. Entre os mil afazeres a que a quinta me obriga, acompanho as conquistas da Teresinha. Isto é um privilégio para mim. A Teresinha cresceu. Aprendeu a andar, descobriu o maravilhoso mundo da terra e das brincadeiras com água e tornou-se mais menina e menos bebé - e começa a precisar de um irmão!

A propósito das minhas dúvidas, e a título de consolo, lembrei-me deste poema do Pablo Neruda:

Morre lentamente,
quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente,
quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente ,
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente,
quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente,
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco e
os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente,
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece,
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.

Pablo Neruda

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